Como será estar preso em um corpo errado?

Imagine viver um dia de sua vida num corpo que não seja o seu! Agora posicione-se em frente ao espelho e ao invés de ver o seu reflexo se depare com algo totalmente diverso da sua própria concepção de si mesmo como pessoa.

Parece enredo de ficção científica? Não, é pura realidade cotidiana para muitos. A pessoa com transtorno de identidade e gênero, antigamente conhecida como transexualismo, vive esta situação literalmente na pele e no mais profundo de seus sentimentos. Como sentir-se mulher num corpo masculino, ou sentir-se homem num corpo de mulher? A sexualidade é um dos fundamentos de nossa identidade, e é através dela que comunicamos nossas demandas à sociedade. Por outro lado a sociedade é muito refratária a tudo que é dito “diferente” ao comum ou que vá contra os dogmas das religiões do ocidente. Aproveito para salientar que toda a forma de expressão deve ser  respeitada, sobretudo a religiosa.

A cirurgia de redesignação sexual foi durante muito tempo relegada ao campo da clandestinidade e muitos candidatos sucumbiam na mesa de cirurgia onde seus sonhos esvaiam-se junto com o sangue. A cirurgia no caso, não é simples, o pós-operatório é doloroso, porém nada disto importa para quem anseia viver em completa sincronia entre seus sentimentos e sua imagem anatômica. Imagine a vontade de sentir-se completo por tanto tempo almejada sendo alcançada? Após o procedimento que pode muito bem simbolizar o segundo e verdadeiro nascimento do ser humano tanto para si, quanto para a sociedade.

No sentido da saúde, o Brasil tem evoluído a passos largos a pesar de sermos uma nação de preconceituosos não declarados, pode ser só não pode assumir. O don’t ask don’t tell aqui é ao contrário!

A marginalidade ainda é um ponto a ser trabalhado, a falta de políticas fortes e compromissadas com esta população acaba relegando possíveis grandes colaboradores à prostituição, violência e subemprego.

Uma nação só é grande quando consegue respeitar e conviver harmonicamente com a diversidade e isto tem que acontecer desde cedo dentro de casa ensinado a nossos filhos o respeito e não a chacota e o deboche.

O caminho invariável do indivíduo transex é a operação de redesignação sexual. Não seria melhor construir políticas públicas para tanto que atenda a contento esta população? Muitos ainda vão para países remotos procurando um preço acessível para a cirurgia, e vale lembrar que não se trata de estética e sim de funcionalidade mesmo. Comecei falando que o transexual sente-se no corpo errado, e isto precisa ser readequado para que cesse o ciclo de sofrimento e dor desta pessoa.

Voltando ao primeiro parágrafo use a imaginação e fique de frente ao espelho, imagine-se num corpo errado, imagine também um mundo inteiro que ainda não conhece você em sua verdadeira forma. É como ser uma lagarta e se sentir uma borboleta, basta apenas um tempo na crisálida, um casulo que não está ao seu alcance. Quem somos nós para negar esta metamorfose?